segunda-feira, 29 de setembro de 2008


 A MULHER SABE QUANDO, QUANTO E COMO U SAR A CABEÇA


 Ninguém entende a mulher; nem outra mulher. É esquisito: muitas vezes, uma mulher, de longe, parece interessante, chega perto, não é; outras vezes é desinteressante de longe, chega perto é interessante - e quando coincide (o que raro) ser interessante de longe e de perto, entra num concurso de miss e perde. 
    A vida da mulher se divide em duas fases: antes e depois de qualquer coisa (não se precipitem que eu chego lá). Por exemplo: antes e depois de se vestir, antes e depois de se pintar, antes e depois de desfiar sua meia, antes e depois de receber um telefonema, antes e depois de ir ao cabeleireiro, antes e depois de noivar, antes e depois de casar, antes e depois de ter um filho, antes e depois de ver a lua. Como se vê, fase é o que não falta para mulher se dividir. E muitas se dividem de tal maneira, que conseguem manter dois namorados ao mesmo tempo, sem que nenhum dos dois saiba - embora todo mundo comente ("todo mundo", aí, são as outras mulheres). Algumas correm, inclusive, o risco de marcar encontro com os dois na mesma hora e no mesmo lugar, e comparecem com a maior calma deste mundo, sem que nada de anormal aconteça - pois a chamada "intuição feminina" lhes diz exatamente que podem ir sem susto, porque um dos dois vai faltar. Qual, elas não sabem, que a sua "intuição" não chega a tanto, mas que um vai faltar, disso elas não têm dúvida: a vão ao encontro justamente por isso, para saber qual o que faltou - porque curiosidade de mulher nunca é passada para trás. 
    Como se vê, mulher raciocina até pelos cabelos - ou principalmente. Por isso mesmo é que ela passa a maior parte do tempo no cabeleireiro, onde tem tempo de sobra para arquitetar os seus planos e, se possível, destruir os de suas amigas mais ligadas (ligadas ao secador, é claro). E enquanto muda exteriormente de fisionomia, vai mudando interiormente. Aliás, quem está certo é o cabeleireiro: "A senhora vai sair daqui inteiramente outra". De fato, assim que ela sai do cabeleireiro, sai tão outra que não reconhece mais ninguém. E isso lhe facilita viver duas vidas: quando sai de casa, que é ela mesma, e quando sai do cabeleireiro - que passa a ser imediatamente "a outra".